Arquitetura de Contemplação –
Construindo em prol do natural
O arquiteto é conhecido como o profissional mais
egocêntrico do mercado; porém, durante o semestre, propomos mostrar outra face
do arquiteto: a de coadjuvante. Queremos analisar obras que foram que projetadas,
intuitivamente ou não, para serem elementos secundários; projetos onde o que se
destaca mais é o seu entorno, a natureza – talvez porque o arquiteto planejou
isso, ou talvez por possíveis erros ou transgressões projetuais. Os projetos
escolhidos foram o Museu de Arte Contemporânea de Niterói, projetado pelo
arquiteto Oscar Niemeyer, e a Farnsworth House, projetada pelo arquiteto Ludwig
Mies Van der Rohe – as informações construtivas de ambos projetos foram
apresentadas nas postagens anteriores.
Contexto/Entorno
Para analisarmos projetos tão diferentes entre si –
um museu e uma casa – precisamos, antes de tudo, analisar o que eles têm em
comum, neste caso, o seu entorno. Ambos estão em lugares com uma natureza
exuberante: o MAC Niterói sobre o Mirante da Boa Viagem, na cidade de Niterói,
com uma vista para a Baía de Guanabara e montanhas do Rio de Janeiro; a Farnsworth House
localiza-se nas proximidades de um rio, em um campo cercado por árvores na
cidade de Plano, Illinois, nos Estados Unidos.
Apesar de serem
lugares de extrema beleza, suas condições climáticas e topográficas foram
condicionantes importantes para o lançamento do partido em ambos projetos. Os
dois autores escolheram elevar os seus projetos do solo, mas cada um por um
motivo diferente. No caso da Farnsworth House, Mies Van der Rohe constatou que,
em épocas de chuvas, a cheia do rio transformava o campo onde o projeto seria
estabelicido em um grande pântano. Essa constatação o levou ao uso de pilotis
para elevar toda a edificação sobre duas lajes de concreto armado, livrando-a
das águas do rio e proporcionando uma leveza e elegância à casa.
No caso do MAC Niterói o seu entorno não chegou a
ser um problema, mas Niemeyer fez questão de valorizar o contexto onde a
edificação seria inserida. O arquiteto escolheu por deixar o térreo livre e
erguer a edificação numa base cilíndrica de nove metros, deixando uma praça aberta
de 2.500m² adornada com um espelho d’água, que proporciona uma bela vista ao
horizonte. Tal escolha, também, proporcionou uma noção de grandiosidade quando
vista de longe, pois a forma orgânica do Museu confunde-se com a geometria
natural das montanhas à sua volta. Uma escolha projetual que proporcionou
uniformidade na relação edificação x entorno.
Forma
A forma, também, é um contraponto importante nos
dois projetos, tanto por conta do programa de cada edificação, quanto por
escolhas dos autores – sejam elas por criação artística ou estilos seguidos à
sua época. Ludwig Mies Van der Rohe escolheu uma forma plana: um grande
retângulo elevado do solo por pilotis, que se espalha horizontalmente ao longo
do terreno, uma forma simples, pura e devidamente modernista, movimento
artístico ao qual o arquiteto fazia parte. Niemeyer, entretanto, optou por uma
forma orgânica, distribuida verticalmente, sem traços fixos: uma grande
cobertura cilíndrica de 50m de altura, algo tipicamente expressionista,
movimento artístico ao qual o arquiteto flertava em alguns dos seus projetos.
A maneira de chegar a essas edificações elevadas
também diferencia-se entre si: enquanto Van der Rohe fez o uso de escadas
simples, tipicamente modernistas, Niemeyer criou uma rampa de 98 metros, que
leva o visitante até a entrada fazendo curvas livres no espaço e gerando
diferentes vistas para o horizonte.
Disposição Espacial
A partir da
forma, chegamos a outra diferença importante em ambos o projeto: a disposição
espacial. A Farnsworth House, tanto por sua forma quanto por seu programa, tem
uma disposição mais simples, mas ainda assim engenhosa e controversa para a sua
época. A casa não possui nenhuma divisória interna, é um salão aberto contendo
apenas armários no centro da planta, que em seu interior abrigam sanitários.
Tal escolha projetual trouxe muita discussão ao
projeto, pois tanto ambientes pessoais como dormitórios, quanto ambientes de
convívio social como sala e cozinha, não tinham divisória alguma, e isso causou
certo desconforto aos proprietários da casa, que sentiam falta de
privacidade.
Já a disposição espacial do MAC Niterói é mais
complexa, tanto por sua forma quanto pelo seu programa ser mais complexo. No
primeiro pavimento Niemeyer criou um salão principal com pé direito duplo,
centralizado e fechado, onde são expostas algumas obras; externo ao salão
salão, há uma janela em 360° com vista panorâmica para a Baía de Guanabara, e
do outro, paredes onde também são expostas obras de arte. No segundo pavimento,
foram criadas cinco galerias independentes entre si, proporcionando assim que
possam ser expostas obras de diferentes exposições.
Filipe Felix