Apesar de serem considerados projetos muito
importantes, algumas transgressões
projetuais fazem com que ambos os projetos recebam críticas controversas por
não cumprirem por completo o programa de necessidades.
No caso do MAC Niterói, Niemeyer, na tentativa de
valorizar o entorno, criou grandes planos de vidro na fachada do edifício,
possibilitando uma visão panorâmica para a Bacia de Guanabara - o resultado final é muito bonito, porém, mais
bonito do que o que realmente importa: as obras de arte. Afinal, é mais prazeroso olhar para uma
parede com quadros, ou para uma vista dessas?
Um bom museu deve ser um ambiente mais “sólido”, “fechado”,
para que o centro das atenções sejam as obras de arte ali expostas; isso não
significa, entretanto, que a natureza ao seu entorno deva ser ignorada – um bom
exemplo de valorização do existente, mas sem perder o foco principal da
edificação é a Fundação Iberê Camargo, projetada pelo arquiteto Álvaro Siza
Vieira, onde o arquiteto faz pequenos rasgos nas áreas de circulação do
edifício, abrindo pequenos panoramas – mas ainda assim muito bonitos – do rio
Guaíba, em Porto Alegre.
No caso da Farnsworth House, a transgressão
acontece mais por ego do autor. Van der Rohe foi um dos principais arquitetos
modernistas, e afirmava seu movimento em todas as suas obras, e o fez também na
Farnsworth. Porém, ele não mediu que dessa vez ele não estava projetando uma
galeria, um pavilhão, mas sim uma casa. O intenso uso de vedação em vidro,
típico em seus outros projetos, dessa vez foi usado de maneira inapropriada,
pois a casa não possui privacidade alguma. O arquiteto defendeu-se na época
alegando que tratava-se de uma casa de campo, e que queria proporcionar uma
experiência diferente aos moradores, mas esses não gostaram da ideia, e
colocaram cortinas por todos os cômodos para terem maior privacidade. Um caso
onde, apesar da contemplação à natureza ter sido intuitiva, ela não foi
concretizada de maneira adequada.
Mas a influência do natural no projeto não parou
por aí: a escolha de elevar a casa do solo também foi por conta das questões
naturais, pois a casa está em uma área alagadiça próxima a um rio. Neste caso,
além de confluir leveza e beleza à edificação, livrou-a das inundações. Neste
caso a escolha do arquiteto foi feliz e não trouxe consequências graves para o
projeto.
Com esses dois exemplos pudemos ver que construir
em prol do natural não é uma tarefa fácil, as condicionantes projetuais são
muito complexas e qualquer deslize ou transgressão pode ser fatal para o
projeto. Apesar de serem projetos
controversos, ambos terminaram por, instituitivamente ou não, serem bons
exemplos de arquitetura de contemplação.
Filipe Felix
Nenhum comentário:
Postar um comentário