terça-feira, 25 de novembro de 2014

Arquitetura de Contemplação – Construindo em prol do natural


O arquiteto é conhecido como o profissional mais egocêntrico do mercado; porém, durante o semestre, propomos mostrar outra face do arquiteto: a de coadjuvante. Queremos analisar obras que foram que projetadas, intuitivamente ou não, para serem elementos secundários; projetos onde o que se destaca mais é o seu entorno, a natureza – talvez porque o arquiteto planejou isso, ou talvez por possíveis erros ou transgressões projetuais. Os projetos escolhidos foram o Museu de Arte Contemporânea de Niterói, projetado pelo arquiteto Oscar Niemeyer, e a Farnsworth House, projetada pelo arquiteto Ludwig Mies Van der Rohe – as informações construtivas de ambos projetos foram apresentadas nas postagens anteriores.

Contexto/Entorno

             

Para analisarmos projetos tão diferentes entre si – um museu e uma casa – precisamos, antes de tudo, analisar o que eles têm em comum, neste caso, o seu entorno. Ambos estão em lugares com uma natureza exuberante: o MAC Niterói sobre o Mirante da Boa Viagem, na cidade de Niterói, com uma vista para a Baía de Guanabara e montanhas do Rio de Janeiro; a Farnsworth House localiza-se nas proximidades de um rio, em um campo cercado por árvores na cidade de Plano, Illinois, nos Estados Unidos.

                        


                Apesar de serem lugares de extrema beleza, suas condições climáticas e topográficas foram condicionantes importantes para o lançamento do partido em ambos projetos. Os dois autores escolheram elevar os seus projetos do solo, mas cada um por um motivo diferente. No caso da Farnsworth House, Mies Van der Rohe constatou que, em épocas de chuvas, a cheia do rio transformava o campo onde o projeto seria estabelicido em um grande pântano. Essa constatação o levou ao uso de pilotis para elevar toda a edificação sobre duas lajes de concreto armado, livrando-a das águas do rio e proporcionando uma leveza e elegância à casa.

                          



No caso do MAC Niterói o seu entorno não chegou a ser um problema, mas Niemeyer fez questão de valorizar o contexto onde a edificação seria inserida. O arquiteto escolheu por deixar o térreo livre e erguer a edificação numa base cilíndrica de nove metros, deixando uma praça aberta de 2.500m² adornada com um espelho d’água, que proporciona uma bela vista ao horizonte. Tal escolha, também, proporcionou uma noção de grandiosidade quando vista de longe, pois a forma orgânica do Museu confunde-se com a geometria natural das montanhas à sua volta. Uma escolha projetual que proporcionou uniformidade na relação edificação x entorno.


                Forma

  

A forma, também, é um contraponto importante nos dois projetos, tanto por conta do programa de cada edificação, quanto por escolhas dos autores – sejam elas por criação artística ou estilos seguidos à sua época. Ludwig Mies Van der Rohe escolheu uma forma plana: um grande retângulo elevado do solo por pilotis, que se espalha horizontalmente ao longo do terreno, uma forma simples, pura e devidamente modernista, movimento artístico ao qual o arquiteto fazia parte. Niemeyer, entretanto, optou por uma forma orgânica, distribuida verticalmente, sem traços fixos: uma grande cobertura cilíndrica de 50m de altura, algo tipicamente expressionista, movimento artístico ao qual o arquiteto flertava em alguns dos seus projetos. 





A maneira de chegar a essas edificações elevadas também diferencia-se entre si: enquanto Van der Rohe fez o uso de escadas simples, tipicamente modernistas, Niemeyer criou uma rampa de 98 metros, que leva o visitante até a entrada fazendo curvas livres no espaço e gerando diferentes vistas para o horizonte.

                
Disposição Espacial



                A partir da forma, chegamos a outra diferença importante em ambos o projeto: a disposição espacial. A Farnsworth House, tanto por sua forma quanto por seu programa, tem uma disposição mais simples, mas ainda assim engenhosa e controversa para a sua época. A casa não possui nenhuma divisória interna, é um salão aberto contendo apenas armários no centro da planta, que em seu interior abrigam sanitários.


  
Tal escolha projetual trouxe muita discussão ao projeto, pois tanto ambientes pessoais como dormitórios, quanto ambientes de convívio social como sala e cozinha, não tinham divisória alguma, e isso causou certo desconforto aos proprietários da casa, que sentiam falta de privacidade.


  

Já a disposição espacial do MAC Niterói é mais complexa, tanto por sua forma quanto pelo seu programa ser mais complexo. No primeiro pavimento Niemeyer criou um salão principal com pé direito duplo, centralizado e fechado, onde são expostas algumas obras; externo ao salão salão, há uma janela em 360° com vista panorâmica para a Baía de Guanabara, e do outro, paredes onde também são expostas obras de arte. No segundo pavimento, foram criadas cinco galerias independentes entre si, proporcionando assim que possam ser expostas obras de diferentes exposições.



Filipe Felix




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