quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

Arquitetura de Contemplação - Construindo em Prol do Natural

Apesar de serem considerados projetos muito importantes,  algumas transgressões projetuais fazem com que ambos os projetos recebam críticas controversas por não cumprirem por completo o programa de necessidades.
No caso do MAC Niterói, Niemeyer, na tentativa de valorizar o entorno, criou grandes planos de vidro na fachada do edifício, possibilitando uma visão panorâmica para a Bacia de Guanabara -  o resultado final é muito bonito, porém, mais bonito do que o que realmente importa: as obras de arte.  Afinal, é mais prazeroso olhar para uma parede com quadros, ou para uma vista dessas?



Um bom museu deve ser um ambiente mais “sólido”, “fechado”, para que o centro das atenções sejam as obras de arte ali expostas; isso não significa, entretanto, que a natureza ao seu entorno deva ser ignorada – um bom exemplo de valorização do existente, mas sem perder o foco principal da edificação é a Fundação Iberê Camargo, projetada pelo arquiteto Álvaro Siza Vieira, onde o arquiteto faz pequenos rasgos nas áreas de circulação do edifício, abrindo pequenos panoramas – mas ainda assim muito bonitos – do rio Guaíba, em Porto Alegre.


 Niemeyer preferiu ser grandioso, investiu artisticamente, e por isso seu projeto é tão controverso – afinal, o MAC é um museu, ou um mirante? Esse é um caso onde, instintivamente ou não, a natureza torna-se mais importante do que o construído, e o arquiteto e a arquitetura, elementos secundários, elementos de contemplação.

No caso da Farnsworth House, a transgressão acontece mais por ego do autor. Van der Rohe foi um dos principais arquitetos modernistas, e afirmava seu movimento em todas as suas obras, e o fez também na Farnsworth. Porém, ele não mediu que dessa vez ele não estava projetando uma galeria, um pavilhão, mas sim uma casa. O intenso uso de vedação em vidro, típico em seus outros projetos, dessa vez foi usado de maneira inapropriada, pois a casa não possui privacidade alguma. O arquiteto defendeu-se na época alegando que tratava-se de uma casa de campo, e que queria proporcionar uma experiência diferente aos moradores, mas esses não gostaram da ideia, e colocaram cortinas por todos os cômodos para terem maior privacidade. Um caso onde, apesar da contemplação à natureza ter sido intuitiva, ela não foi concretizada de maneira adequada.
Mas a influência do natural no projeto não parou por aí: a escolha de elevar a casa do solo também foi por conta das questões naturais, pois a casa está em uma área alagadiça próxima a um rio. Neste caso, além de confluir leveza e beleza à edificação, livrou-a das inundações. Neste caso a escolha do arquiteto foi feliz e não trouxe consequências graves para o projeto.
Com esses dois exemplos pudemos ver que construir em prol do natural não é uma tarefa fácil, as condicionantes projetuais são muito complexas e qualquer deslize ou transgressão pode ser fatal para o projeto.  Apesar de serem projetos controversos, ambos terminaram por, instituitivamente ou não, serem bons exemplos de arquitetura de contemplação.



Filipe Felix

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